•06:04






CONCEPÇÃO DO HOMEM NA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA


No início do século XIX, com o desenvolvimento das chamadas ciências humanas, a interrogação filosófica sobre o homem teve que definir seu estatuto epistemológico, em face dos novos saberes científicos sobre o mesmo, implicando uma nova relação ao mesmo tempo com os procedimentos metodológicos e com os conteúdos dessas novas ciências. A situação da Antropologia Filosófica, em face dos novos saberes sobre o homem, assume inicialmente a característica de uma crise: a fragmentação do seu objeto de estudo nas múltiplas ciências do homem. Assim, cada ciência passou, então, a estudar o homem a partir de seu próprio ponto de vista e, o antagonismo teórico, foi sentido como uma ameaça que confundiu e obscureceu o entendimento em relação a ele, fazendo com que na Antropologia Filosófica, na acepção dada a esta disciplina na nomenclatura da filosofia contemporânea, denunciasse não haver mais qualquer idéia clara e coerente do homem e, muito menos, uma concepção unitária dele. Na tentativa de superação dessa crise sobre a concepção de homem na cultura ocidental, diversas tendências manifestaram-se. Segundo Henrique Vaz, existe duas grandes correntes: o naturalismo, que professa um reducionismo do fenômeno humano à natureza material; e o culturalismo, que acentua a originalidade da cultura em face da natureza, separando, no homem, o ser natural e o ser cultural. Mesmo ciente da importância das transformações ocorridas nas concepções de homem que se referem os diferentes períodos históricos, são as concepções da Modernidade que interessam, sobremaneira, para o entendimento dos fundamentos antropológicos. Foi importante para a modernidade o renascentismo. Nesse período, pode-se falar de uma concepção humanista de homem, apesar de ser este um contexto de complexas influências. Entretanto, Henrique Vaz afirma que duas matrizes estão nos fundamentos da concepção renascentista de homem: o da dignidade do homem e o do homem universal. O tema da dignidade, na verdade, reaparece, assim, respondendo às necessidades da nova sensibilidade que exige o reconhecimento das características essenciais do homem. Com efeito, é a imagem do homem universal que põe em evidência o problema da unidade e da igualdade da natureza humana. A antropologia renascentista a parece, desse modo, como uma transição para a imagem racionalista de homem que irá dominar os séculos seguintes. A partir do Renascimento, surge um novo homem, bastante marcado pelo individualismo, que lhe tutela a possibilidade de ser o centro dos valores e do conhecimento. O individualismo, portanto, como pressuposto maior da Modernidade, assegura ao homem a idéia e a crença de que ele é dono do mundo e por este motivo pode, através do conhecimento e com suas descobertas, controlar e dominar a natureza. Pode-se pensar que as conquistas científicas libertam o homem da submissão à religião e à natureza, permitindo-lhe colocá-las a seu serviço. Esta é, sem dúvida, a concepção de homem no século XVIII. A concepção de homem na Modernidade carrega marcas das concepções anteriores, apesar de ter sido cunhada num período de rupturas. Os tempos modernos viam, nos conceitos de homem e de natureza de seus precedentes, um par de idéias confusas e contraditórias. De fato, a Idade Moderna rompe com a síntese anterior (clássico-cristã). É com Descartes que a antropologia racionalista encontra sua expressão ao apresentar a dualidade espírito e corpo. Eis a idéia a natureza humana da Modernidade e do homem que a acompanha: o homem-máquina. A Modernidade, com a dominância de suas tradições teóricas e epistemológicas, reflete uma nova posição do homem diante das coisas. O homem da Modernidade está, cada vez mais, entregue a si mesmo, e cada indivíduo defronta-se com um mundo no qual já não se sente, plenamente, em casa, pois existe a certeza de que vive num planeta, como outro qualquer, no meio do universo imenso, e de onde lhe surgem fenômenos, até então, estranhos. É próprio da Modernidade que o homem se descubra, não apenas senhor de direito de todas as coisas, mas que também se reconheça como fonte primordial de seus próprios erros. Na medida em que a civilização ocidental amplia suas bases materiais e, efetivamente, universalizam-se as concepções de homem, tornam-se mais complexas e passam a enfrentar o difícil problema do chamado idéias antropológicas. Nesse sentido, a unidade cultural (como na Grécia) ou a unidade religiosa (como na Idade Média) da concepção de homem é desfeita pela descoberta da imensa diversidade de culturas e de tipos humanos que serão submetidos à análise minuciosa e, aparentemente, desagregadora das novas ciências. No século XIX, sob o predomínio do positivismo, tem-se a concepção naturalista de homem. Rousseau fala do retorno à natureza originária do homem, não influenciado pela sociedade corrompida, isto é, a sua natureza que é originalmente boa. Rousseau propõe uma nova concepção de homem em que se considere toda a sua natureza, não se esquecendo da sua afetividade, nunca antes considerada em período de grande valorização da razão. Rousseau retrata um poderoso movimento de valorização da sensibilidade e das emoções, prenunciando a primazia dos sentimentos sobre a razão. Surge, também, a visão darwiniana que situa o homem entre as demais formas de vida orgânica, sem limites arbitrários, numa contínua e ininterrupta corrente de vida entre as várias espécies. O homem, nessa visão, torna-se um ser natural, biológico e em mutação para outra espécie. O impacto da obra de Darwin está, na descentralização do homem de sua própria natureza, convertendo-o num animal, como outro qualquer ou, ainda, num produto da evolução das espécies. O naturalista sobre o homem Freud que com sua teoria influenciou os rumos da Psicologia. Freud foi, sem dúvida, um dos pensadores que mais modificou e ampliou os conhecimentos acerca do homem. Freud provocou mudanças significativas na concepção de homem, retirando dele crenças e valores até então intocáveis. A Psicanálise construída por Freud é tributária de diversas tradições filosóficas e teológicas. Na teoria freudiana, encontram-se estreitas relações com a fisiologia e a biologia, além do determinismo, próprios da ciência. Muitas críticas foram feitas à concepção do homem que Freud, principalmente, no que diz respeito aos desejos destrutivos e libidinosos da criança, aos impulsos incestuosos e homossexuais e à motivação sexual como explicação do comportamento. Com efeito, a partir de Freud, o homem não controla e não é senhor sequer de sua própria essência, sua alma. O que parece ter ocorrido no final do século XIX é contraditório, pois o homem vive, ao mesmo tempo, seu apogeu e o início de sua dissolução, começa a desmoronar a ilusão de que ele ocupa o centro do mundo, sendo a partir desse desmoronamento que um novo homem constituiu-se. É nesse contexto que irão aparecer às ciências humanas, causando impacto sobre as ciências naturais. Ao despontarem como ramo autônomo de saber, as ciências humanas fazem o homem ingressar numa nova era de concepções sobre si mesmo. No século XX, apesar de seus fundamentos serem anteriores, irá aparecer abordagem existencial-humanista, que entende o homem como um ser que não tem uma essência pré-definida. É o homem da possibilidade, do ser-no-mundo, do vir-a-ser. É o ser lançado no mundo e seu destino é construído pelo seu próprio escolher. Hoje, existem muitas e diversas concepções de homem: a mística, a materialista, a individualista, a holística, a científica, a tradicional, a religiosa, entre tantas outras. Diante das múltiplas concepções de homem brotadas do projeto epistemológico da Modernidade, uma interrogação está presente: quem é realmente o homem que constitui o objeto de estudo filosófico, teológico, antropológico, sociológico e cientifico. A Filosofia, em lugar de começar seu trabalho conhecendo a Natureza e Deus, para depois referir-se ao homem, começa indagando qual é a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos. Em outras palavras, a reflexão, isto é, pela volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer sua capacidade de conhecer. A segunda grande mudança para os modernos, são as coisas exteriores (a Natureza, a vida social e política) Isso significa, por um lado, tudo o que pode ser conhecido, pode ser transformado pelo homem e para o homem. A terceira concepção é a mudança intelectual moderna. À ciência clássica, isto é, à mecânica, por meio da qual são descritos, explicados e interpretados todos os fatos da realidade: astronomia, física, química, psicologia, política, teologia, artes são disciplinas cujo conhecimento é de relações necessárias. A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem. Nasce a idéia de experimentação e de tecnologia (conhecimento teórico que orienta as intervenções práticas) e o ideal de que o homem poderá dominar tecnicamente a Natureza e a sociedade. Predomina, assim, nesse período, a idéia de conquista científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da invenção das máquinas, graças às experiências físicas e químicas. Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governá-las e dominá-las, de sorte que a vida ética pode ser plenamente racional, pois o homem moderno buscou ver sua existência com lógica, com comprovações que o leve a viver a sua vida dentro do equilíbrio com a natureza, de forma lógica.

Concepção bíblica do homem
Houve sempre dois conceitos predominantes na história da igreja com respeito à composição da natureza essencial do homem: dicotomia e tricotomia. Historicamente, especialmente nos círculos cristãos, concebeu-se o homem composto de duas partes: corpo e alma. No decorrer do desenvolvimento do pensamento cristão, contudo, apareceu outro conceito que compunha o homem de três partes: corpo, alma e espírito, a tricotomia. Este último movimento apareceu com a influência da filosofia grega, que concebeu a relação entre o corpo e o espírito ligados entre si por meio de uma terceira substância, ou um terceiro elemento, que é a alma. A alma era considerada, por um lado, como imaterial quando relacionada com o espírito e, por outro lado, material, quando se relacionava com o corpo. “A forma mais familiar e mais crua da tricotomia é a que toma o corpo como a parte material humana, a alma como o principio da vida animal, e o espírito como o elemento racional e imortal que há no homem para relacionar-se com Deus.” Ainda diz: “A alma se apropriava do pneuma, se fosse considerada como imortal; mas se fosse relacionada com o corpo, ela era carnal e mortal.” O pensamento tricotômico encontrou apoio em vários pais da igreja grega, nos primeiros séculos da era cristã. O pensamento dicotômico já teve seus adeptos na igreja ocidental, como por exemplo, em Agostinho. Na Idade Média, foi crença comum à dicotomia. Na Reforma aconteceu o mesmo, exceto uns poucos estudiosos. Não é a alma que peca, mas o homem que peca; não é o corpo que morre, mas o homem que morre; não é a alma que Cristo redime, mas o homem. O homem é uma unidade. A concentração das Escrituras não é nas partes que compõem o homem, mas na unidade que cada parte apresenta. Temos sempre que ver o homem como uma unidade. E assim que a Bíblia o apresenta.


Antropologia patrística (do século I ao século VII)
Inicia-se com as Epístolas de Paulo e o Evangelho de João e termina no século VIII, quando teve início a Filosofia medieval. A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Pais da Igreja para conciliar a nova religião, o Cristianismo com o pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. A Filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. Divide-se em patrística grega ligada à Igreja de Bizâncio e patrística latina ligada à Igreja de Roma. A patrística foi obrigada a introduzir idéias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a idéia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como trindade una de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que são pura perfeição e bondade. Introduziu, sobretudo com Agostinho, a idéia de “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo. Para impor as idéias cristãs, os Pais da Igreja as conceberam como verdades reveladas por Deus através da Bíblia que, por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. Com isso, surge uma distinção, desconhecida pelos antigos, entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou humanas, isto é, entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as primeiras introduzindo a noção de conhecimento recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento racional. Dessa forma, o grande tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade de conciliar razão e fé, e, a esse respeito, havia três posições principais: Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão, diziam eles: “Creio porque absurdo”. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé, diziam eles: “Creio para compreender”. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem misturar-se a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens no mundo; a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à vida eterna futura. Com isso a igreja tenta trazer dogmas intimamente relacionado com as idéias greco-romana, valendo-se da autonomia e autoridade que exercia para injustamente.


Pr.Israel Jordão.

|
This entry was posted on 06:04 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.

3 comentários:

On 11:31 , Cleya. disse...

Gostei!mas,ñ tinha como resumir mais? O texto é coeso,entendir bem...

 
On 13:43 , Unknown disse...

kkkk coisa pakaralho resumi mais foi bem eficiente, explicado, só n resumido mas tá bom !

 
On 00:26 , Calton Lampião disse...

Óptimo