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Resenha
A Bíblia e seus Interpretes
Israel Jordão
Recife, Março de 2010.

RESENHA DO LIVRO,
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus Intérpretes. Uma breve história da interpretação. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
O livro escrito pelo Rev. Dr. Augustus Lopes Nicodemus, professor de Novo Testamento no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ), da Universidade Mackenzie. Doutorou-se em Hermenêutica e Estudos Bíblicos (Ph.D., NT) no Westminster Theological Seminary (1993). É Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pastor da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro (SP) e, também, autor de vários livros, dentre eles o livro A Bíblia e seus intérpretes que será objeto de nossa resenha, nos traz uma narrativa histórica da interpretação e como a hermenêutica tem através dos tempos marcado a interpretação bíblica. O Livro faz uma avaliação das principais correntes hermenêuticas desde o período patrístico até ao nosso tempo pos-modernos, como também levanta questionamentos para serem refletidos pelos interpretes da bíblia. O Livro em amplia a cosmovisão histórica, exegética e hermenêutica em relação ao refletir e repensar criteriosamente o que de fato os interpretes tem sido das sagradas escrituras. O Livro é uma alavanca para desalojar as estruturas interpretativas que vem contribuindo para um caos nos púlpitos das igrejas, como também denunciar a heresia teológica contemporânea que vem travestida de enganos por falta da interpretação, da exegese e da hermenêutica. A crise pela qual passa a teologia não é apenas de homens mal intencionados, mas despreparados por não terem fidelidade na interpretação histórica do texto. O Pr. Augustus Nicodemus é um teólogo reformista e extremamente hermeneuticamente textual o que significa ter consciência em trazer de volta o mesmo sentimento dos reformadores na questão da inspiração das escrituras, como também os princípios hermenêuticos na interpretação das sagradas escrituras de forma a não se adulterar o texto como fora escrito. O Conteúdo do livro em seus 16 capítulos ao meu ver podem ser descritos em 3 tempos ( Passado, presente e o futuro) Na primeira parte de tempo, quero identificá-lo de Gêneses, Os Primeiros Intérpretes do Antigo Testamento e a Necessidade de Interpretação; A Igreja foi sendo marcada historicamente por situações de profundas mudanças e de perseguições, todavia sua resistência é reflexo de quem à fundou, sua prevalecência é prova irrefutável de que a Bíblia é sua regra de Fé e Pratica. Manter as escrituras como regra de fé e pratica é rever que historicamente os debates teológicos hermenêuticos foram realizados em Nicéia, em Capadócia, em outras localidades, com o propósito a manter o consenso teológico, a unidade da igreja e sua autoridade diante dos assuntos espirituais e governamentais em relação ao povo. Por isso a “Gêneses” da hermenêutica e sua necessidade é um fato importante para a igreja em todos os tempos e mesmo com suas influencias teológicas, a interpretação descrita Bíblia, escrita por homens, mas totalmente inspirados por Deus continuará sendo O Livro dos Livros. O autor traz um questionamento quanto ao que ele chama de “distanciamento temporal” entre, “o temporal, o contextual e o cultural”. Esse distanciamento temporal e espiritual precisa ser bem entendido e historicamente contextualizado, para que possamos como amantes da verdade chegar de fato a uma interpretação correta que venha transmitir a mensagem que o próprio texto escrito pelo autor quis dizer. O autor nos passa o principio do movimento hermenêutico que começou no passado com os escritores e que continua sendo o mesmo princípio em nossos dias. O livro identifica alguns pensadores que influenciaram a nossa teologia e que nos legou uma história de correntes interpretativas que contribuíram para a interpretação escrituristica. Dentre as correntes interpretativas, “Escola de Alexandria” sob influencia da filosofia platônica, que conduziu os pais Alexandrinos a verem nos textos um significado oculto afastando-os do sentido literal. Como contradição surgiu “A Escola de Antioquia da Síria” fundada em oposição ao método alegórico alexandrino, onde os Interpretes dessa corrente usa e trabalha com interpretação do texto com o método histórico-gramatical. As principais características da Escola de Antioquia eram a valorização do sentido literal do texto. Mas a influência da Escola de Alexandria tornou-se fundamental para a teologia medieval em a igreja mantinha sua interpretação. Todavia, a escola de Antioquia foi especial nas vidas e nas obras de Jerônimo e de Agostinho, que defenderam e usaram uma hermenêutica histórico-gramatical. A Segunda parte de tempo, identifico como a de Neemias, o autor faz uma analise da interpretação em que os autores do Novo Testamento fizeram do Antigo Testamento. Afirmando que nesse momento o histórico da interpretação das escrituras parece estar sendo re-interpretando o Antigo Testamento, em relação a vida Publica de Jesus. Isso para mim não é uma nova “hermenêutica” ou “Interpretação” das escrituras, mas, um recomeço, uma reconstrução em relação às interpretações do antigo com o Novo Testamento. A época de fato era de derrubar a igreja institucionaliza que interpretava as escrituras em detrimento do seu poder. A Igreja Romana de fato era quem determinava a teologia, a interpretação das escrituras. Todavia foi nesse período que a teologia medieval cheias de suspeitas foi confrontada pela a hermenêutica de interpretes como Martinho Lutero (1546) que confrontou e desmascarou suas interpretações. Era tempo de reconstruir como Neemias a interpretação correta da palavra de Deus e facilitá-la para o povo. Lutero marcou a história como interprete da renascença européia, tendo como referencial Agostinho (430), Lutero, investiu na obra filosófica grega e dedicou-se exaustivamente ao estudo do Novo Testamento em sua língua original com o objetivo de traduzir para língua do seu povo. A Reforma foi uma reconstrução hermenêutica, “uma reforma na maneira de ler a Bíblia”. Não é mais a igreja romana quem determina o que deve ou não ser observado, mas, agora quem faz isso é a própria bíblia e qualquer pessoa pelo uso dos meios de interpretativos, podem chegar ao conhecimento da Palavra de Deus. Calvino também na sua hermenêutica contribuiu para consolidar a interpretação do método histórico-gramatical. Calvino era capacitado em filosofia grega, um poliglota, conhecedor das línguas originais das escrituras sagradas (Hebraico, Grego e alguns textos em Aramaico) como também o latim e mantinha contato com os pensadores de sua época. Calvino dizia que interpretar o texto Alegoricamente é construir “ficções”, não é uma interpretação de uma revelação de Deus, mas uma imaginação de quem está interpretando o texto. Portanto, Calvino nos deixa um legado o método histórico-gramatical, o que nos responsabiliza ser intérprete das escrituras, deixando que o texto fale por si só. Calvino nos faz entender que para uma interpretação se faz necessária uma total e submissa dependência de quem Inspirou e iluminou as escrituras, o Espirito Santo. Foi o Espirito Santo que inspirou os escritores naquilo que deveria ser registrado. Foi o Espirito Santo quem de fato preservou e Preservará a palavra escrita em todo o tempo. E o Espirito Santo é quem ilumina as mentes em todos os tempos os que ministram a palavra de Deus. O método para interpretar a Bíblia é a própria Bíblia, este é o princípio defendido no livro. A Terceira parte quero identificá-lo de Apocalipse, Os Intérpretes da Bíblia na História da Igreja Cristã; Isso porque vivemos uma teologia contemporânea misturada com sincretismo, paganismo, misticismo, humanismo em deusados e uma teologia relativizada em detrimento da popularidade e do crescimento numérico da igreja. Essa teologia contemporânea tem posto em risco a seriedade da ciência da Interpretação bíblica, a Hermenêutica. O autor dedica-se ao período da modernidade, fazendo historicamente uma conexão entre a Interpretação escrituristica confrontada decisivamente com Iluminismo, movimento filosófico surgido no inicio do século 18, que foi uma sinalização de revolta contra o poder da “igreja” institucionalizada e contra a religião em geral. O fato e que o movimento filosófico racionalista e o humanista impactaram a teologia e a interpretação da bíblia. Historicamente na Interpretação bíblica, Deus era visto como aquele que controlava o destino humano, porém com o surgimento do Iluminismo a Historia humana passou a ser interpretada não pela Palavra mais pelas causas naturais da própria vida, entre causas e efeitos. Muitos teólogos começaram ser influenciados pela filosofia moderna e pelo avanço cientifico e assim a negar os milagres relatados na Bíblia, fruto da teologia liberal. Na pós-modernidade, a verdade não pode mais ser conhecida apenas pela fé e preciso ter que ser provada pela lógica da razão. Enfrentamos a relativização entre as coisas absolutas, o que também traz questionamentos a cerca da interpretação Hermenêutica da Bíblia. O autor expressa sobre isso; “Na pós-modernidade, o foco move-se para o leitor, rejeitando-se a intenção autoral e o processo de formação do texto.” (p.201). Ou seja, na Reforma, o foco da interpretação estava no escritor da bíblia. Na modernidade, estava no texto escrito; Agora na pos-modernidade, esta no homem que ler o texto. Isso é um perigo, pois se cada um interpreta a luz de sua imaginação como Calvino já advertiu, ou em detrimento de seus interesses, teremos uma hermenêutica extremamente e radicalmente humanista e relativista e sem a iluminação e inspiração do Espirito Santo. A “igreja” institucionalizada usou desse expediente quando na época da colonização interpretou textos bíblicos em detrimento de seus interesses políticos e espirituais, o que tornou o cristianismo desassociado do Jesus histórico e do Jesus Salvador. O autor afirma que de fato existe um distanciamento entre nos e o texto bíblico, mas “ele pode ser vencido pelo estudo e oração, e podemos chegar ao sentido original da mensagem bíblica” (p.256). O autor ressalta que na modernidade a interpretação da hermenêutica buscava descobrir quais os processos históricos de formação textual, e assim fazer a interpretação do texto. “Agora, ela tornou-se sincrônica, isto é, preocupada apenas em entender o texto à luz de si próprio e da interação deste com o leitor.” (p.199). A na modernidade traz consigo método secularizado, o método Crítico. Para a hermenêutica pós-moderna, o sentido do texto é construído sobre a visão do leitor em relação ao texto; O autor alerta-nos: que a hermenêutica pós-moderna sai “do campo literalista para o do além-do-literal, numa versão pós-moderna da antiga alegorese alexandrina.” (p.203). Quando navegamos nos capítulos 14 e 15, nossos olhos se abrem ao conhecimento de várias correntes hermenêuticas que surgiram no contexto da pós-modernidade. E um importante intérprete citado é Hans-Georg Gadamer, que defendia o “entendimento de uma passagem não é causado inteiramente pelos pressupostos do leitor e nem inteiramente pela situação histórica original do texto, mas por uma fusão de ambas as perspectivas” (p.219). Para o Pr. Augustus Nicodemus, este método interpretativo “traz resultados destrutivos para a exegese bíblica”, pois “seu projeto é relativizar o sentido do texto bíblico mostrando que as Escrituras têm muito mais interpretações válidas do que aquelas que aparecem na superfície.” (p.236). Outro importante movimento hermenêutico analisado é reação do leitor, “assim chamada por enfatizar o envolvimento do leitor na produção e na determinação do sentido de um texto” (p.230). Esse sistema de interpretação é fruto da hermenêutica de Gadamer. O que também influenciou o surgimento da teologia da libertação e a hermenêutica feminista, onde os textos bíblicos deveriam ser lidos e interpretados pelo contexto social da sociedade e sobre a ruptura machista que ainda mantinha a desigualdade feminina dentro e fora da igreja. Todavia, Pr. Augustus Nicodemus ressalta a preocupação de preservar a integridade escrituristica, como também afirma que a hermenêutica de Gadamer tem sido questionada por eruditos atuais, como E. D. Hirsch. Portanto, desafio aos estudantes de Teologia e aqueles que militam e ministram a Santa Palavra de Deus, aos apologistas a tornarem seus púlpitos descodificados de interpretações intencionadas a situações extremamente casuísticas em detrimento pessoal ou da influência da mídia, pois a palavra de Deus é eterna. “Passaram os céus e a terra, mas as minhas palavras permanecerão para sempre” Mat.24;35. Estamos lidando com os pensamentos de Deus, que precisam ser interpretados e explicados com muita clareza. Temos uma tarefa como proclamadores das escrituras de falar com coerência sem ferir a lógica e a fé. Somos, em certo sentido, obrigados a buscar com dedicação e esforço o entendimento, a compreensão dos textos evitando interpretações arbitrárias, absolutizando, assim, pontos de vistas que não correspondem com o verdadeiro sentido da mensagem. Manter-se limitado ou auto-suficiente para não reconhecer a necessidade de uma análise interpretativa histórica do texto, é querermos gerar conscientemente uma geração, que facilmente será levada por qualquer vento de doutrina e tomando assim o caminha da apostasia. No livro “Entendes o que lês”, o autor Gordon D. Fee, ele declara; “Deus escolheu falar sua palavra através das palavras humanas na história” Porém, a palavra de Deus não é obrigada a dizer apenas o que queremos, mas nós temos que crer e fazer o que a bíblia que dizer. O Apostolo Paulo nos exorta “a andarmos não pelo que vemos, mas pelo o que cremos” 2 Cor. 5;7. O Teólogo Alemão Bonhoeffer declara que “Deveríamos ler a bíblia não somente a nosso favor, mas principalmente contra nós”. Só assim de fato saberemos quem somos. No livro “Crer é também pensar” o autor John Stott, “declara certa exaltação ao anti-intelectualismo, onde um seguimento evangélico buscar interpretar a palavra apenas espiritualizando, achando que usando o método hermenêutico é secularizar a palavra de Deus, todavia, Jonh Stott afirma que o Cristão foi criado para pensar em harmonia com mente de Cristo”. Porém, O que tem gerado tantas heresias! Tantas seitas! É o resultado da falta de conhecimento, de usar a hermenêutica como uma ferramenta para uma interpretação que vise trazer o ensino textual para qual foi escrito e inspirado por Deus. É evidente que o objetivo de uma boa interpretação não é procurar algo que ninguém deixou ou não percebeu, mas buscar de fato o sentido claro do texto. A Pos-modernidade tem gerado uma igreja contextualizada o que não é diferente na interpretação da Palavra de Deus. O homem contemporâneo utiliza de recursos que camufla toda a beleza do sermão expositivo e textual, e, o interprete não se sente exigido e nem compromisso com a vida cristã. Creio que a mais urgente necessidade da Igreja contemporânea é a pregação autêntica expositiva onde a palavra de Deus é extremamente estudada e ministrada. Pois vivemos uma pos-modernidade onde a teologia contemporânea está se tornando secularizada e existencialista onde nos púlpitos é explicito ouvir sermões racionais e emocionais. Que o Espirito Santo que inspirou as escrituras sagradas nos ajude nessa tarefa.




Pr.Israel Jordão
Bacharel em Teologia e Aluno do Curso de Pós-Graduação em Teologia Pastoral pelo CET, CENTRO DE ENSINO TEOLOGICA em Recife-PE, Pastor da Igreja Batista Filadélfia- Sucupira, Jaboatão-PE e Prof. (Administração Eclesiástica, Vida Cristã e Teologia Pastoral) no CET.

Email- israelmonica@oi.com.br
Blog- israeljordao.blogspot.com
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1 comentários:

On 09:30 , José Augusto de Oliveira Maia disse...

Eu estou procurando este lvro para comprar, e não acho nem com a editora.